O Cansaço da Mulher que Faz Tudo Sozinha: Quando a Terapia é um Ato de Liberdade

Outro dia, em uma conversa despretensiosa com um amigo, falávamos sobre o cansaço silencioso que acompanha muitas mulheres. Não se trata apenas de exaustão física, mas de uma sobrecarga emocional profunda, fruto de múltiplas funções que se acumulam sobre seus ombros. Essa mulher — que é profissional, mãe, filha, esposa, cuidadora — vive um paradoxo: conquista independência no mundo público, mas segue sobrecarregada no privado. Mesmo dentro de relacionamentos amorosos, muitas vezes precisa se preocupar sozinha com os cuidados da casa, a criação dos filhos, a gestão do cotidiano e, ainda por cima, com a saúde emocional de todos ao seu redor. Como psicóloga em Macaé, escuto diariamente histórias de mulheres que carregam esse peso caladas. O que torna tudo ainda mais delicado é que, frequentemente, elas permanecem em relacionamentos instáveis — não por comodidade, mas por medo. Medo de sair, medo de recomeçar, medo de ser julgada. O que era para ser parceria, vira peso. E a relação que deveria acolher, oprime. É comum vermos mulheres que, ao invés de serem companheiras, tornam-se mães de seus parceiros: cuidam, orientam, cobrem responsabilidades básicas e emocionais que não deveriam ser suas. Como disse a filósofa Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. E o que vemos, muitas vezes, é que ao se tornarem mulheres, também são ensinadas a se responsabilizar por tudo e por todos — até mesmo por relacionamentos adoecidos. A mulher moderna conquistou muito, mas ainda vive prisioneira de papéis impostos. Muitos homens já não ocupam mais o lugar de “provedores” — o que não é um problema por si só. O sustento pode e deve ser compartilhado. O problema é que, ao deixarem esse lugar, muitos não ocuparam outro com responsabilidade, presença real e afeto. Continuam exigindo cuidados, mas não oferecem suporte emocional, nem compromisso com a construção conjunta da vida a dois. É preciso coragem para reconhecer que estar sozinha pode ser menos doloroso do que estar mal acompanhada. E é preciso terapia para mulheres que desejam reconstruir sua liberdade emocional, sua autoestima e sua paz. Se você se reconheceu nesse lugar, saiba: você não está sozinha. Buscar ajuda psicológica pode ser o primeiro passo para sair desse ciclo. Com o apoio certo, é possível ressignificar dores, reconhecer limites e viver com mais verdade. Relacionamento saudável é parceria, troca, cumplicidade — nunca sacrifício unilateral. Terapia individual, autoconhecimento e saúde mental feminina são caminhos de volta para si mesma. Cuidar de si não é egoísmo — é sobrevivência. E você merece mais do que apenas resistir. Você merece viver. —

MULHERES

Béttany Carvalho – Psicóloga (CRP 05/72227)

5/19/20251 min read